terça-feira, 4 de maio de 2010

"Água de beber, água de beber Jota Ká"

"A Juscelino que honrou e elevou sua pátria e sua cidade natal."

21/ Abril/ 2010 / 50 anos de Brasília.


Bernardo Magalhães
Robson Dayrell


quinta-feira, 15 de abril de 2010

Onde está o nó?

A Secretaria de Turismo não foi criada.

O Conselho Municipal de Cultura não foi reavaliado.

O Conselho Municipal de Turismo não foi empossado. (Foi votado?)

A Vesperata continua dormindo.

A Comissão da Vesperata é uma caixinha de surpresas.

O Carnaval continua incomodando.

O Teatro uma incógnita.

O Festival de Inverno quase, como sempre, que vai para outro lugar.

As Instituições continuam investindo, sem retorno. (E podem ir embora)

A desinformação é geral.

A estagnação no Turismo e na Cultura um fato.

A FUNCARD está onde sempre esteve, no gabinete do Prefeito.

Um apartheid cultural está instalado.

Onde está o nó?

"Pela linguagem, que pode simular a sabedoria,
Pelo esquecimento, que anula ou modifica o passado,
Pelo costume,
Que nos repete e nos confirma como um espelho." (JL Borges)


Bernardo Magalhães
Abril 2010

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Era uma vez...

“Dentro deste contexto, o que se espera é que a gestão cultural local venha desempenhar um papel relevante, não se restringindo...

No sentido de alterar este panorama, principalmente o cenário sócio-político-cultural do Município, buscamos contribuir...

A tentativa de redirecionamento da economia da cidade para o Setor Turístico parece não perceber que a cultura não é gasto e sim investimento para o desenvolvimento local e humano...

Na contramão de várias políticas públicas, tem sido feita a opção pela “privatização” de espaços e práticas culturais coletivas, consolidando ainda mais a desigualdade de acesso aos bens culturais...

A complexidade da Cultura envolve práticas que, de uma só vez são: sociais, econômicas, políticas, ecológicas e semióticas...

Inventar uma forma de universalidade que não nega a multiplicidade das culturas...

A construção coletiva de um Plano Municipal de Cultura requer a utilização de metodologias participativas, de diagnóstico e planejamento...

O roteiro para a elaboração do PMC deverá ser pactuado...

Para que o Conselho Municipal de Cultura seja um instrumento eficiente de gestão e controle social...

A Secretaria de Cultura deverá assumir competências, prioritariamente, político-estratégicas...

A idéia de redes e consórcios municipais de cultura poderá ser exercitada...
O princípio da intersetorialidade deverá configurar uma nova forma de administrar a cultura...

Condizente com as dimensões simbólica, cidadã e econômica da cultura, assim como, o almejado resultado final de consolidação de políticas públicas...

Aproveitando a interface...”


...um pinto freguês. Quer que eu conte outra vez?

Bernardo Magalhães
Abril/2010

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Turismo Aprendiz

Já na Roma antiga os turistas afluíam para ver os gladiadores no Coliseu: turismo de massa?

Nós podemos imaginar que pelos idos de 1785 Paris e Roma já atraiam visitantes, seja pela Igreja Católica de um lado, seja pela Liberdade, Igualdade e Fraternidade de outro.

Pela mesma época a Coroa Portuguesa impedia, com todas as barreiras impostas, que turistas viessem à região do Distrito Diamantino.

Podemos considerar que foram Spix e Martius, que aqui estiveram em 1817/18,os nossos primeiros turistas. A viagem que o Duque de Saxe e seu Irmão D. Luis Felipe fizeram pela província de Minas Gerais em 1868, nos deixou os primeiros registros fotográficos de Diamantina. Sim, turismo exploratório, científico, de negócios, de prazer.

Em 1924 um grupo de intelectuais paulistas ligado à Semana de Arte Moderna, que aconteceu em 1922 em São Paulo, fez uma histórica viagem às cidades coloniais mineiras: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e o poeta franco-suíço Blaise Cendrars: Turismo cultural e histórico como matéria-prima e objeto de reflexão para a Arte Moderna.

Lúcio Costa, também em 1924, em sua viagem a Diamantina, cunhou a expressão “o chão que continua” para definir a arquitetura da cidade. Esta viagem mudou o rumo da arquitetura no Brasil.

Em 27/29 Mario de Andrade viaja pelo Norte e Nordeste do Brasil publicando anos depois o clássico “O Turista aprendiz”. Na viajem ele se encanta com a fotografia e realiza pesquisa etnográfica, musical, folclórica, etc. Turismo multidisciplinar.

Pela distância tudo aconteceu mais devagar em nossa cidade: em 1910 a inauguração da rede elétrica, em 14 o Ramal Ferroviário Curralinho-Diamantina estava inaugurado, telefone automático somente em 1952, e a estrada de asfalto só foi inaugurada em 1968!!!

“O Roteiro Turístico de Diamantina”, de Almir Neves Pereira da Silva, de 1957, indica a existência de 15 estabelecimentos de hospedagem (hotéis e pensões), com 176 aposentos. Entre eles: Hotel de Turismo (Tijuco), Esplanada e Grande Hotel. O Hotel Tijuco foi uma obra de JK então governador do Estado. O Homem já previa o destino da cidade?

Lúcia Machado de Almeida e Guignard aqui estiveram e publicaram “Passeio em Diamantina” em 1960: uma aula de cultura e civilidade.

Diamantina vivia um bom momento com a Ferrovia, os órgãos federais e estaduais que Juscelino trouxe para cá, DER, INSS, Universidade.

O Turismo era de negócio, de formatura, do Carnaval, que ainda era um atrativo local e dos diamantinenses ausentes, e das festas religiosas: Divino, Semana Santa e Rosário.

Nos anos 70: anos de chumbo: fim da Ferrovia, fechamento do INSS, dos Correios, a prisão de JK. Nos ano 80 o boom do garimpo e a chegada do Festival de Inverno da UFMG: 83/84, Diamantina começava a atrair turistas com um interesse cultural.

A Atividade Turística, com um viés um pouco mais profissional, começou mesmo com o titulo da UNESCO em 1999, através da fundação da Adeltur e a instituição da Vesperata como produto turístico oficial e talvez símbolo do título conquistado.

O nosso problema está justamente aí, pois a Vesperata de certa maneira cegou os dirigentes tanto da iniciativa privada como do poder publico. Talvez porque deu muito certo, (com 15 apresentações anuais!), eles não se preocuparam em desenvolver outros produtos, em incentivar outras manifestações culturais, em profissionalização.

Chegamos ao cúmulo da Vesperata ser vendida para uma empresa de Belo Horizonte que ditava os preços das hospedagens e dos restaurantes! Além disso, essa empresa criou o seu próprio espetáculo utilizando a Banda Mirim, na Gruta do Salitre, que o poder público não conseguiu realizar!

Fecharam-se em si mesmos, não se preocuparam em criar estruturas profissionais nem dentro da Associação nem na Sectur.

A Vesperata não é um evento de massa como o Carnaval. È sofisticado, ricamente musical, historicamente embasado, que exige da platéia um comprometimento. Merece um tratamento especial, uma direção artística profissional, uma administração transparente nas vendas das mesas, no trato da coisa pública, etc.

Dia 27 começa a estação das Vesperatas. A Sectur parece amordaçada, sem forças para mudar o que deve ser mudado, sem projetos para o Turismo, nem o COMTUR conseguiu formalizar.

O principal e único Produto Turístico da cidade está à deriva, minguando em suas qualidades musicais, nivelando por baixo o público interessado. O Ministério Público já foi acionado e deu prazo para o Executivo tomar suas decisões quanto a relação Adeltur/Sectur. A Associação não representa ninguém, só o grupo que detém as mesas.

A atividade turística exige da sociedade civil Associações de classe fortes, dos hoteleiros, dos restaurantes, dos guias, um COMTUR sendo a voz da multiplicidade de interesses do turismo na cidade.

O Turismo Cultural pode ser potencializado através do Teatro Santa Isabel, que vai ser brevemente inaugurado, mas continua sem projetos sem uma discussão com o meio artístico local.

O potencial no Eco turismo é enorme, a Trilha da Maria Fumaça está aí, os Parques nos arredores, o Teatro Santa Isabel, que pode potencializar a cultura local de uma maneira extraordinária e que continua sem projeto ou ao menos sem discussão com o meio artístico local.

O potencial no Eco turismo é enorme, a Trilha da Maria Fumaça está aí, os Parques nos arredores, as trilhas pelas Serra do Espinhaço, etc.

São DECISÕES POLÍTICAS que devem ser tomadas: investimentos na profissionalização da Sectur, na definição das estratégias de divulgação e marketing, na infra-estrutura de tráfego, na iluminação dos monumentos, no apoio aos projetos da iniciativa privada como o tombamento da Gruta do Salitre para realização de um grande evento.

Somos aprendizes, mas não podemos deixar o Turismo em Diamantina ser decido entre as quatro paredes da Sectur, sem o Conselho Municipal de Turismo que a supervisione, ou da Adeltur, sem representatividade.

Da mesma maneira que o desenvolvimento de um Turismo Cultural não pode prescindir de um Conselho Municipal de Cultura com representação das diversas linguagens artísticas.

Bernardo Magalhães
Diamantina /Março 2010

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Mineiro

Colinas? Belzontinas? Diamantinas?
Como defines Minas? O caminho?
A pedra? Mato Dentro? Muzambinho?
Talvez, mineiramente, não definas.

Meninas recatadas não são Minas.
Nem é só Milton, Rosa, Aleijadinho,
o alferes, o político, o meirinho,
guris traquinas, críticos sovinas.

Gilberto Freyre fala dos mineiros
afeitos a bolinas em seus pés
descalços das botinas de tropeiros.

Não sei dizer se o és ou se não és.
Só quererei teus queijos e teus cheiros,
anônimo João entre os Josés!

Glauco Matoso/ 2000

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Dos Conselhos e das Comissões

Os Conselhos Municipais de Cultura e de Turismo são exigências da Secretaria Estadual de Cultura e da Setur, Secretaria Estadual de Turismo e também dos respectivos Ministérios. Sem eles as Prefeituras não podem receber os ICMS Cultural e de Turismo.

Os Conselhos devem ser órgãos de caráter normativo, consultivo, deliberativo e propositivo, vinculado à Prefeitura Municipal de Diamantina.

Eles têm como finalidade assessorar, apoiar, articular, propor diretrizes, acompanhar, avaliar e emitir pareceres e sugestões para ações referentes ao desenvolvimento municipal na área do Turismo e da Cultura.

Os Conselhos são criados por Lei municipal e seus membros empossados através de decreto, regidos por um Regimento Interno elaborado pelos conselheiros, e suas atas devem ser registradas em cartório.

O COMTUR, Conselho Municipal de Turismo, deve ser composto de membros representantes de instituições/entidades públicas e privadas legalmente constituídas, com interesse e de relevância para o desenvolvimento turístico, conforme projeto de lei que foi recentemente proposto à Câmara Municipal.

Já o CMC, Conselho Municipal de Cultura, foi chamado às pressas no inicio da atual administração, com o objetivo único de não perder o ICMS Cultural relativo a 2009.
Para tampar um buraco na composição do Conselho, foram chamadas rapidamente pessoas amigas, sem nenhuma representatividade no meio Cultural da cidade.

Foram esses amigos nomeados por decreto do Prefeito? Temos o direito de saber quem são eles, seus méritos para merecerem o cargo, qual a atual diretoria do CMC, o conteúdo de suas atas e principalmente o seu Regimento Interno, se existir.

As Comissões de Carnaval e da Vesperata não são uma obrigação legal. Por isso a dificuldade ainda maior de acesso às informações quanto aos seus objetivos, ao Regimento Interno, seus membros atuais e atas das reuniões.

Como e quando foram criadas essas Comissões? São os membros eleitos por quem? Nomeados por decreto? Quais seus reais poderes de decisão? Têm mandatos de quantos anos?

Recai sobre seus membros uma responsabilidade enorme: suas decisões (?) têm implicações econômicas e culturais, pois decidem assuntos relativos aos dois maiores eventos de Turismo de Diamantina.

A Lei atual do Conselho Municipal de Cultura e as atribuições das Comissões do Carnaval e da Vesperata devem ser revistas para uma participação efetiva dos artistas da cidade e transparência em suas decisões.


Bernardo Magalhães
Diamantina 07/12/2009

Um ano da Sectur

O sonho estava lá ao nosso alcance: tínhamos finalmente conquistado a Cultura o Turismo e o Patrimônio.

Foram dois meses de reuniões com um grupo forte, supra-partidário, de peso, com artistas, intelectuais nas diversas áreas, associações de bairros, representantes do turismo e da cultura para se elaborar um projeto para a Secretaria de Cultura, Turismo e Patrimônio de Diamantina.

A “Proposta de Governo para a Cultura”, um documento de 12 páginas, foi apresentado e discutido com o prefeito Padre Gê, já então eleito, semanas antes da posse e das indicações do Secretariado. (Publicado acima)

Propúnhamos ações nas mudanças das leis que regem o Turismo e a Cultura, (Conselho Municipal de Cultura, Conselho Municipal de Turismo), como também uma ousadia: a separação da Secretaria em duas. Uma para a Cultura e Patrimônio, (nesse caso o patrimônio imaterial, já que o IPHAN cuida, e bem, da proteção de nossa arquitetura) e a outra para o Turismo.

Isso daria mais independência ao Turismo porque uma nova estrutura seria criada, e liberaria a Cultura de um fardo, porque existe um confronto entre as duas atividades.

As políticas públicas para as duas secretarias seriam ditadas pelo poder público com “democracia participativa”, e de uma “ação contínua de instituir, aperfeiçoar e reinventar canais permanentes de diálogo e de gestão compartilhada “, como explicita o documento de apoio à nomeação da Secretária.

O Turismo em Diamantina depende exclusivamente da cultura e muitas vezes essa relação é de absorção pois, “o poder econômico do turismo imprime um ritmo e demandas bastante diferenciados da cultura ”, como foi pontuado na nossa Proposta.

Prevíamos que para a Cultura e Turismo “As competências técnicas e operacionais deverão ser assumidas pela Fundação Cultural e Artística de Diamantina – FUNCARD, que também deverá passar por uma reforma estrutural”.

Aqui vale um parêntesis para relembrar a criação da Fundação Cultural e Artística de Diamantina - FUNCARD.

Ela foi criada pela lei nº 917 de 30 de maio de 1974, pelo então prefeito Antonio de Carvalho Cruz. Ao que tudo indica o imóvel onde hoje se encontra a Sectur foi desapropriado em 1º de Janeiro de 1977 para ser a sede da FUNCARD, pelo mesmo alcaide.

Mas foi somente em 1989 que o estatuto da Fundação, com um parecer do Procurador de Justiça, foi consolidado pelo prefeito João Antunes e finalmente registrado em cartório em 11 de dezembro de 1996, 25 anos após sua idealização!!!

No estatuto podemos ler que, entre as suas áreas de competência estão a “execução de políticas de cultura e turismo do município” , “ a administração de áreas e locais de interesse turístico” e que ela “ gozará de autonomia administrativa e financeira” .

Mas, em 1997, o Dr. João Antunes de Oliveira decreta que a Fundação passa a integrar a estrutura administrativa do Gabinete do Prefeito: acabou-se a independência financeira e administrativa prevista no estatuto!

A FUNCARD pode ser o braço executivo das ações tanto na área da Cultura como do Turismo, basta uma vontade política.

Para a Secretaria de Cultura propusemos, no documento, ações para “serem revistas a composição e as atribuições do Conselho Municipal de Cultura - CMC já existente, promovendo-se a modernização na legislação relativa ao funcionamento do próprio conselho bem como sua atribuição”.

E “Para que o CMC seja um instrumento eficiente de gestão e controle social, além do caráter deliberativo do mesmo, é necessário que estejam representados em sua composição todos os segmentos artístico-culturais do município”.

O CMC continua a funcionar nos moldes antigos, sem a representatividade, sem que seu estatuto tenha sido rediscutido e as suas atribuições bem redefinidas.

No âmbito do Turismo detectamos, nos nossos encontros, que o poder público “Ao possibilitar a comercialização de bens culturais, o governo local legitima apenas alguns, sendo ele próprio agente da exclusão cultural”.

Por isso “... a grande riqueza cultural do município não é estrategicamente potencializada gerando o sentimento de exclusão de dezenas de agentes culturais. O impacto negativo da implantação de políticas de desenvolvimento turístico que se tornam bem mais fortes do que a consolidação de políticas culturais orientadas para o desenvolvimento local, já é bastante conhecido”.

Os nossos dois grandes eventos de Turismo, a Vesperata e o Carnaval, continuam a ser definidos por Comissões que, da mesma maneira que o Conselho Municipal de Cultura, carecem de representatividade social e cultural.

São eventos acéfalos, privilegiando poucos, causando impactos já verificados na queda da audiência nas Vesperatas, e nos problemas por demais conhecidos na Praça do Mercado e que se espalham por toda a cidade durante o Carnaval.

Todos os anos pedimos a Deus que nenhuma tragédia ocorra!!!

No Carnaval vendemos o Centro Histórico por ninharia, e no caso da Vesperata privatizamos um evento popular e não nos preocupamos com seu desenvolvimento artístico. Um produto Turístico que vive à deriva, sem projetos, sem direção, sem objetivos.

Por falta de um braço executivo a Prefeitura Municipal se apóia, há vários anos, em uma entidade, incapaz juridicamente de fazê-lo.

Diamantina, uma cidade de todos para todos!
PARTICIPAÇÂO POPULAR NAS DECISÔES CULTURAIS JÁ!

Bernardo Magalhães
Dezembro/2009

domingo, 6 de dezembro de 2009

PLATAFORMA DE GOVERNO PARA A CULTURA


Introdução


A frente partidária “Unidos para renovar e desenvolver”, saiu vitoriosa da disputa eleitoral para governar Diamantina. A sua vitória corresponde à expectativa de centenas de eleitores diamantinenses que vislumbraram nas propostas dessa frente, a possibilidade de transformação por uma Diamantina mais inclusiva, mais democrática e moderna no que tange à forma de governar o município. Os princípios emanados pelo governo eleito, da participação popular, da modernização administrativa, da constituição de políticas públicas e desenvolvimento econômico, gerando qualidade de vida para todos foram vislumbrados pelo povo diamantinense como um futuro promissor.

A Administração Cultural de boa parte dos municípios brasileiros basea-se em formas ultrapassadas de administração pública, que não dão conta mais da complexidade que o setor cultural tem dinamicamente alcançado no mundo contemporâneo. A forma de gestão da Política Cultural em nosso município nos últimos governos não conseguiu induzir o desenvolvimento cultural local de maneira ampliada de forma a gerar a inclusão dos diferentes segmentos sociais. Desde que tornada Patrimônio da Humanidade, Diamantina tem tido oportunidades de acesso a verbas, programas e projetos que não se potencializaram no âmbito local, criando muitas vezes uma expectativa frustrada de seus moradores.

As políticas culturais de um governo devem corresponder às diretrizes gerais da administração pública. Dentro deste contexto, o que se espera é que a gestão cultural local venha desempenhar um papel relevante, não se restringindo a promoção de eventos. Atualmente, a conjuntura é extremante favorável para os governos que focam a sua atuação para as mudanças culturais. São vários os atores sociais, as redes estaduais, nacionais e globais que tematizam os Direitos Culturais e começam a ver na cultura um cenário importante e estratégico, inclusive para projetos de desenvolvimento econômico. No sentido de alterar este panorama, principalmente o cenário sócio-político-cultural do Município, buscamos contribuir para que o novo governo eleito possa cumprir as propostas apresentadas durante a campanha, tornando Diamantina, uma cidade de todos para todos!

Para melhor compreensão das propostas que serão apresentadas, será feita uma breve contextualização do cenário cultural brasileiro em termos da construção de políticas para o setor cultural ao nível da União, do Estado de Minas Gerais, da Região e do Município.


Contexto Nacional


O Brasil vive atualmente momentos importantes de qualificação de políticas públicas para a área cultural, associadas ao princípio de aprofundamento de nossa democracia. Outras áreas de atuação do estado já têm experimentado a execução de políticas públicas com amplos processos de participação. A busca da igualdade e da plena oferta e acesso para a expressão e fruição culturais são reconhecidos como uma nova geração de direitos humanos.

Reformas estruturantes têm sido feitas capitaneadas pelo Ministério da Cultura-MINC juntamente com o Poder Legislativo e a sociedade civil e visam principalmente assegurar o papel do estado brasileiro ao fomento da diversidade cultural e da cidadania. É neste sentido que o MINC, desde 2003, vem cumprindo um amplo calendário de mobilização, discussão e sistematização de propostas junto à sociedade civil e à Câmara Federal visando a aprovação do Plano Nacional da Cultura- PNC. Este pode ser comparado à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Servirá para fortalecer a capacidade da sociedade brasileira, valorizar a nossa diversidade cultural, abrindo caminho para a implantação do Sistema Nacional de Cultura, promovendo a integração entre os três entes da federação: União, Estados e Municípios.

O PNC promoverá a atualização dos instrumentos de regulação das atividades e serviços culturais proporcionando critérios e perspectivas de financiamento e de execução de políticas públicas de apoio à cultura. Nesta perspectiva, o MINC vem se reestruturando o que tem possibilitado a proposição e lançamento de vários programas que apóiam as mais diferentes formas de expressão: literatura, audiovisual, patrimônio, artes cênicas, música, dança, artes plásticas, etc.


Contexto Estadual

O Estado de Minas Gerais já assinou o Acordo de Protocolo com a União visando contribuir para a implantação do Sistema Nacional de Cultura. A Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais-SEC/MG ampliou a sua atuação para vários segmentos sociais e artísticos nunca antes abrangidos pela política estadual, seguindo a estratégia de descentralização do Governo Federal. Nesse sentido, implantou estratégias de gestão mais transparentes, editais públicos, consultas públicas, câmaras setoriais e fóruns. Atualmente a SEC-MG avança na parceria com o Governo Federal para o lançamento de mais Pontos de Cultura para o estado, assim como, a execução do Programa Mais Cultura em Minas Gerais: programa de apoio a infra-estrutura artístico-cultural e a intersetorialidade da cultura com as demais áreas de ação governamental.


Contexto Regional

Apesar de todo o seu significado histórico e a existência de uma ampla oferta de serviços e infra-estrutura pública, Diamantina se estagnou e se isolou no contexto cultural do Vale do Jequitinhonha. Através do desenvolvimento turístico e da oferta de novos serviços, induzida por ações do Governo Federal que politicamente tem atuado através de programas regionalizados (PRODETUR, Turismo Solidário, CVT de Inclusão Digital, etc.), a cidade tem retomado setorialmente um destaque. No entanto, a riqueza cultural do Município, assim como, a diversificada e vigorosa cultura do Vale do Jequitinhonha não têm sido intercambiadas, a não ser pela dimensão comercial do artesanato através da iniciativa privada e bem recentemente através da ação do “Circuito dos Diamantes” e do “Instituto Estrada Real”.


Contexto Local

O município de Diamantina, pelo seu significado regional e político, notadamente, tem ficado ausente de vários processos em curso no campo da gestão cultural. Se não fossem pelas iniciativas da sociedade civil provavelmente, o município não teria feito a sua conferência municipal de cultura, nem teria feito, em 2006, a assinatura do Acordo de Protocolos que visa a implantação do Sistema Nacional de Cultura e todas as suas decorrências na esfera de competência dos três entes da Federação.

A tentativa de redirecionamento da economia da cidade para o Setor Turístico parece não perceber que a cultura não é gasto e sim investimento para o desenvolvimento local e humano. Embora o município, tenha recebido a visita de gestores culturais nacionais e internacionais importantes, a ausência de um Plano Municipal de Cultura tem impossibilitado a concretização de financiamentos para a implantação de programas e projetos culturais.

Em uma cidade tornada Patrimônio Cultural da Humanidade, é óbvio que as culturas material e imaterial sejam tomadas como objeto da política cultural. No entanto, dependendo da forma como elas são tratadas, pode-se estar criando processos que irão, mais tarde, atuar de maneira negativa. As ações em curso têm se dado no sentido de induzir a perda da identidade de parte dos elementos culturais tornando-os objeto folclórico e, ou, simplesmente, produto de consumo de turismo e lazer.

Na contramão de várias políticas públicas, tem sido feita a opção pela “privatização” de espaços e práticas culturais coletivas, consolidando ainda mais a desigualdade de acesso aos bens culturais. Ao possibilitar a comercialização de bens culturais, o governo local legitima apenas alguns, sendo ele próprio agente da exclusão cultural. Neste movimento, a grande riqueza cultural do município não é estrategicamente potencializada gerando o sentimento de exclusão de dezenas de agentes culturais. O impacto negativo da implantação de políticas de desenvolvimento turístico que se tornam bem mais fortes do que a consolidação de políticas culturais orientadas para o desenvolvimento local, já é bastante conhecido. O poder econômico do turismo imprime um ritmo e demandas bastante diferenciados da cultura.

Não se identifica políticas públicas orientadas para o desenvolvimento cultural da localidade no que tange à organização, fortalecimento e formação dos diversos coletivos e agentes culturais. É preciso realçar que Diamantina tem tradição e manifestações culturais significativas e coletivos artístico-culturais que têm o direito de terem acesso a incentivos e políticas orientadas para o seu desenvolvimento. É notória a fragilidade de manutenção/sobrevivência de várias práticas culturais e a falta de visibilidade de algumas manifestações, principalmente aquelas de cultura popular situadas na periferia da cidade, nos distritos e zonas rurais do município.

O tema da diversidade cultural é objeto principal da Convenção da Unesco sobre a Proteção e a promoção da Diversidade das Expressões Culturais, ratificada por dezenas de países do mundo na qual o Brasil é signatário. Em Diamantina, a pluralidade e a diversidade existente não têm sido consideradas, e a acepção de democracia cultural, parece ser algo muito distante da nossa realidade.

É a partir desse contexto que está sendo apresentado este documento, visando conduzir um debate mais qualificado e abrangente sobre as possibilidades na qual se dará a construção e implantação de uma Política Cultural para Diamantina Patrimônio da Humanidade.


Proposta

Unidos para renovar e desenvolver – Um pacto para o futuro.

A Cultura é esse todo complexo, que inclui conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes, e quaisquer outras capacidades e hábitos produzidos pelo ser humano enquanto membro de uma sociedade.

A complexidade da Cultura envolve práticas que, de uma só vez são: sociais, econômicas, políticas, ecológicas e semióticas. A produção de significados se dá em meio a representações, práticas e performances, tornando-se contextual, palpável e observável.

A globalização vem impondo a uniformização do mundo, pois nega a diferença. Mas basta observar atentamente os diferentes aspectos culturais para perceber a riqueza de respostas que cada lugar dá a essa uniformização. A resistência cultural se expressa de diferentes formas, como: os focos de manutenção de identidades culturais; a resignificação do antigo com novas formas e ritmos; o sentido local que se dá para objetos e ações globais; etc.

Inventar uma forma de universalidade que não nega a multiplicidade das culturas é importante para lutar contra a exclusão e facilitar a inclusão social de forma que as pessoas se reconheçam na diversidade sem perder a sua identidade. A luta contra a exclusão aparece, em primeiro lugar, como um problema político entre grupos. A cultura só tem sentido quando facilitadora de relações humanas e do convívio social entre as diferenças que compõe a complexidade da nossa sociedade. A integração entre diferentes grupos, ou classes sociais, só se torna possível se eles conseguem construir uma forma de cidadania aceitável para todos. Para tal, reconhecer os diferentes grupos e dar condições necessárias para que cada um se expresse e participe desta construção cidadã é fundamental.

Ao propormos esta plataforma de governo reconhecemos os seguintes pressupostos:

  • existência da diversidade cultural;
  • coexistência de diferentes processos de legitimação ou de negação das identidades culturais;
  • identidade e memória coletiva como patrimônio cultural;
  • dispersão dos coletivos artísticos do município geográfica, histórica e culturalmente;
  • diversificação e fortalecimento das fontes de financiamento à cultura aplicados de forma descentralizada;
  • democracia participativa como imperativo da gestão cultural;
  • políticas culturais como forma de inclusão e integração social.

Para facilitar a integração social é necessário mobilizar meios de integração. A integração nas sociedades atuais passa pela melhoria das condições de vida, sendo o espaço das expressões e manifestações culturais uma dimensão fundamental da condição humana.

Acreditamos que, para alcançar seus objetivos no cenário complexo atual, e aos desdobramentos do processo cultural a ser atendido, a Prefeitura Municipal de Diamantina, Câmara Municipal de Vereadores e Secretaria de Cultura, Turismo e Patrimônio precisam estruturar políticas culturais capazes de identificar e assumir o que está em jogo na dinâmica cultural local, regional e nacional.

Dada a importância da dimensão cultural e a necessidade de integração social dos diferentes grupos e expressões culturais de Diamantina, propomos aqui a elaboração e implantação de uma Política Municipal de Cultura fundamentada nos pressupostos anteriormente elencados.

A elaboração e implantação da Política Municipal de Cultura requerem ações e intervenções que podem ser delimitadas em três dimensões: Político-Estrategica, Jurídica e Operacional.


Dimensão Político-Estratégica

O conceito de uma cidade de todos e para todos, deve ser compreendido também através da construção do significado e do exercício da cidadania cultural. Assumir estes valores significa a ação contínua de instituir, aperfeiçoar e reinventar canais permanentes de diálogo e de gestão compartilhada da cultura contribuindo, assim, para a superação de desigualdades e o reconhecimento das diferenças existentes entre os sujeitos, em suas dimensões social e cultural.

A primeira tarefa, para evitar a generalização de situações de exclusão, é política: negociar entre as comunidades presentes num território um acordo sobre objetivos comuns a todos. A segunda etapa pode então começar: mobilizar meios de integração para fazer todos participarem de um destino compartilhado. A solução dos problemas que resultam da exclusão não pode situar-se em automatismos sociais. Ela sempre repousa sobre uma vontade política. Ela envolve a modernização dos meios tradicionais de integração e a invenção de novos.


Plano Municipal de Cultura

O primeiro passo para a efetivação de uma Política de Cultura, em consonância com as Diretrizes do Plano Nacional de Cultura em processo de implementação pelo Ministério da Cultura, e atendendo aos anseios dos diversos segmentos ligados a Cultura no município, é a elaboração do Plano Municipal de Cultura - PMC por meio de um processo amplamente participativo e democrático.

A elaboração de um PMC de forma democrática e participativa parte da premissa de que há uma opção política do governante em compartilhar diretamente com a população a tomada de decisões relacionadas à elaboração e execução de políticas públicas e neste caso política pública para a cultura.

A construção coletiva de um PMC requer a utilização de metodologias participativas, de diagnóstico e planejamento iniciando-se com a identificação e mobilização de todos os grupos e formas de expressões culturais, formais e informais, existentes em todas as localidades do município (bairros da cidade, sede dos distritos e povoados). Tendo como produto dessa ação o “Primeiro Diagnóstico Cultural do Município de Diamantina”.

Desde o início do processo de construção do PMC representações das comunidades, distritos e bairros do município, detentores das diferentes formas de expressões culturais do município devem constituir um Grupo de Trabalho que irá estabelecer um roteiro e todas as etapas de construção do Plano. A opção por construir o PMC desta forma oportunizará a participação da comunidade como um todo e não apenas a voz do representante local.

O roteiro para a elaboração do PMC deverá ser pactuado por todos os segmentos ligados a cultura e conter todas as dimensões (social, econômica, política, etc) que se pretende inserir no plano e que deverão se transformar em ações e políticas públicas culturais no âmbito municipal. O PMC, uma vez elaborado e aprovado, será o principal Documento Legal que subsidiará todas as ações e realizações relacionadas à Cultura no município.

O segundo passo será o estabelecimento de mecanismos de Gestão e Controle Social sobre as ações e políticas públicas municipais relacionadas à cultura. Nesse sentido, deverão ser revistas a composição e as atribuições do Conselho Municipal de Cultura - CMC já existente, promovendo-se a modernização na legislação relativa ao funcionamento do próprio conselho bem como sua atribuição dentro do novo modelo de gestão cultural nacional em processo de implantação pelo MINC.

Para que o CMC seja um instrumento eficiente de gestão e controle social, além do caráter deliberativo do mesmo, é necessário que estejam representados em sua composição todos os segmentos artístico-culturais do município. O processo de construção do PMC se constitui em um excelente momento de revisão da composição e atribuições do CMC, possibilitando assim o estabelecimento em paralelo da formação continuada em produção cultural dos atores sociais e dos coletivos culturais presentes no município.

No sentido do controle social é interessante, também, que se aproveite a mobilização que acontecerá em torno da elaboração do PMC e se constitua um Fórum Municipal de Cultura com duração permanente e irrestrita participação de todos os grupos e formas de expressões culturais do município. O Fórum deverá ter caráter avaliativo e propositivo, podendo indicar a necessidade de instituir outras estratégias de participação, oferecendo subsídios ao CMC na definição de ações e políticas públicas, que como resultado da metodologia de elaboração do processo de construção do PMC foi efetivamente construído pelo município, fruto de ações descentralizadoras de discussões e definições de prioridades.


Dimensão Jurídica

Com a elaboração do PMC serão necessárias modificações na base jurídica do município como, por exemplo, na própria Lei Orgânica do Município. Ou, ainda, a criação de novos instrumentos legais relacionados à Cultura, adequando-os às demandas e proposições contidas no Plano. Sendo assim, a parceria com o poder legislativo e a sociedade civil é estratégica para a construção do Plano Municipal de Cultura, assim como, também para a implantação do Sistema Municipal de Cultura.

Para implementar o PMC com todas as demandas que irão exigir a estruturação do Sistema Municipal de Cultura, propomos a desvinculação entre cultura e turismo constituindo campos de gestão e administração autônomos, porém com ações intersetoriais. Para isso, será necessária a criação de uma Secretaria específica para a Cultura e uma alteração na legislação que institui as competências e atribuições da atual SECTUR. Não se trata de reforçar o pensamento dicotômico Turismo X Cultura, mas de criar um organismo próprio para a gestão cultural, sem perder de vista a necessidade de interligação destes dois campos de possibilidades de promoção de um desenvolvimento social e econômico mais equitativo para Diamantina.

A Secretaria de Cultura deverá assumir competências, prioritariamente, político-estratégicas com um organograma gerencial “enxuto” e adequado a estas atribuições. As competências técnicas e operacionais deverão ser assumidas pela Fundação Cultural e Artística de Diamantina – FUNCARD, que também deverá passar por uma reforma estrutural.

A maior expressão da disposição de um governo em relação a uma dada política pública é a disponibilização de recursos financeiros para a sua efetivação. Para tanto, deverão ser destinados recursos orçamentários especificamente para a cultura. Poderá ser criado um Fundo Municipal de Cultura constituído por receitas próprias do município, ICMS Cultural, destinações orçamentárias do Estado ou da União, etc. Será necessária a tramitação na Câmara Municipal de uma Lei específica para este fim. Ressaltando que o Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Diamantina, criado pela Lei Municipal no. 2733, de 27-03-2002, precisa ser analisado visando a não sobreposição de instrumentos e atribuições.

O Fundo Municipal de Cultura deverá ser gerido pela FUNCARD e gestado pelo Conselho Municipal de Cultura. Atribuição esta que deverá ser garantida no Estatuto da FUNCARD.


Dimensão operacional

A gestão cultural como política pública no município de Diamantina deve acompanhar o movimento que o Governo Federal tem feito para a construção da constitucionalidade da cultura no Brasil. Neste sentido, o município já possui alguns equipamentos culturais (Centro Cultural David Ribeiro, Biblioteca Pública Municipal, Bandinha de Música, “Orquestra Jovem”, Futuro Teatro Municipal) que precisam adquirir uma posição mais estratégica no desenvolvimento da política cultural local. Uma reforma institucional será também necessária estruturando um novo modelo de organização político- operacional.

A descentralização cultural também deverá ser uma premissa de orientação estratégica-operacional para assegurar o acesso e a fruição cultural. Além do centro histórico, a política cultural deverá inventariar as outras centralidades existentes no município com as suas periferias, distritos e zonas rurais. Assim como, levantar as estruturas físicas existentes nas localidades que detêm a condição de sediar, uma oficina de arte, uma projeção de cinema, uma apresentação musical e, ou, teatral e etc.

Inicialmente, poderá ser formada uma rede de parcerias com as instituições locais, tais como, associações comunitárias, salões paroquiais, escolas e etc. O modelo construído pelo MINC dos Pontos de Cultura poderá ser “copiado” para Diamantina, implantando os Pontinhos de Cultura por todo o município. A longo prazo o município deverá buscar o investimento em infra-estrutura física, a exemplo da estruturação de centros culturais locais comumente utilizados nas políticas de descentralização cultural, processo este que já terá sido fomentado pelos Pontinhos de Cultura.

Também será adotado o princípio de territorialidade e de cidade regional na administração municipal de Diamantina lançado pelo programa de governo do Prefeito eleito, pois estes vêm de encontro aos princípios da própria cultura e da proposta ora apresentada. Neste sentido, será desenvolvido o Programa de Territórios de Cidadania Pela Dimensão Cultural que abre a possibilidade de interagir, intercambiar e construir projetos coletivos com os outros municípios do Vale, formando redes de abastecimento, preservação, formação, criação, produção e difusão cultural.

A idéia de redes e consórcios municipais de cultura poderá ser exercitada. Um exemplo concreto dessa territorialidade da cultura que extrapola a dimensão geográfica, é o Patrimônio Imaterial da Cultura Afro-descendente. Este está presente fortemente em Diamantina e em toda a extensão do Vale do Jequitinhonha, contando atualmente com políticas específicas para o seu fomento, preservação e difusão.

A musicalidade do município poderá ser fomentada e canalizada para maior geração de renda dos seus agentes através do Programa Território da Música, que também poderá se abrir para a paisagem sonora do Vale do Jequitinhonha. Especificamente em Diamantina esta experiência poderá acumular processos, conteúdos e vivências que possam conduzir o município a implantar o Museu de Território da Música.

Assim como estes dois campos de manifestação provocam a nossa imaginação outros territórios culturais poderão ser configurados a partir do desenvolvimento de pesquisas e da participação contínua dos sujeitos da produção cultural. Assim, de fato, poderemos ir nos aproximando de uma HUMANIDADE CULTURAL E DE TODOS!


Intersetorialidade

O princípio da intersetorialidade deverá configurar uma nova forma de administrar a cultura no município. Condizente com as dimensões simbólica, cidadã e econômica da cultura, assim como, o almejado resultado final de consolidação de políticas públicas para a área, deve-se avançar para as parcerias entre as outras áreas de atuação do governo municipal. Sendo assim, turismo, educação, saúde, meio ambiente, assistência social e outras áreas, deverão conjuntamente com a cultura elaborar diretrizes e programas que evidenciem a dimensão cultural de cada uma delas, a exemplo das relações do homem com o meio ambiente em que é impossível separar a cultura e a natureza, em que ambas são provedoras de formas de vida, de identidades e de produção de manifestações do povo brasileiro.

Diamantina Novembro/Dezembro 2008


segunda-feira, 2 de março de 2009

CARNAVAL ?

Dias antes de começar a angústia vem num crescendo. Como será? Quantos turistas, assaltos, os riscos de pânico, de brigas, de um acidente na praça superlotada, muito acima de sua capacidade de segurança. Os banheiros químicos agüentaram? Vai faltar água? E se não chover, o cheiro vai ficar insuportável...

Na quinta-feira já começam a chegar, o palco está armado.

Com os moradores já em contagem regressiva na sexta-feira começa,: vrum, vrum, baticumcumcum, trataratralalatatá.

Nem todos, vamos dizer a verdade. Vi um infeliz concidadão, com uma caixa de som em cima de seu Uno, aos berros, tocando uma música indecente, nojenta, que garanto não tocaria para sua família em dia de churrasco.

Depois de mais de 800 músicas pelas bandas oficiais, 160 por noite, 80 por banda!, milhares de outras extras pelas caixas de som nos bares, nas barracas, nos automóveis, nas casas: créus, raps, hip-hops, bundinhas, funks, axé, sertanejo...

Depois de milhões de batidas no tamborim, nas caixas e surdos, de sopros nos metais, bilhões de decibéis: marchinhas, sambas-enredo, Xuxa, Chico, Bob Dylan, Marley, Seixas, tudo, tudinho virando Punk-samba na Batcaverna e Bartucada. Faz lembrar Johnny Rotten e os Sex Pistols!!!

Na verdade são dois shows que se repetem todas as noites: se viu uma noite, escutou, já sabe tudo. Nem o Rolling Stones consegue manter com criatividade uma mesma apresentação cinco noites seguidas: só as nossas bandas, graças a Deus!

São profissionais, cumprem uma agenda, um contrato, que imagino para eles mesmos desgastante, apesar do rodízio no palco, insuportável.

Uma geléia geral, um frenesi que alcança níveis alucinantes, uma cacofonia, algaravia indescritíveis: o ritmo é muitas vezes multiplicado, dando impulso final ao álcool, à catarse, ao êxtase que não chega nunca, numa concorrência ao Tecno-Rave da Quitanda.

Músicas que se repetem: nem toda a MPB, nem todo o repertório do mundo são suficientes. Não fiz uma contagem, uma estatística, mas garanto que “I can get no satisfaction” foi tocada pela menos 15 vezes, “Balão mágico”, 18, em ritmo Samba-Punk!

A cidade não suporta, os cidadãos não suportam, a estrutura física não suporta. O lucro suporta!

Quarta-feira, 11 horas da manhã: acabou-se o caos, depois de chegar ao fundo do poço, mas não se vê uma luz. Resta o cheiro azedo.

Fico pensando em João Gilberto e seu silêncio, em Lobo de Mesquita e o órgão da Igreja do Carmo, em Aires da Mata Machado e seus Visungos...

No sábado uma dupla de violeiros cantava no Mercado, finalmente nosso:

"Carnaval são só 4 dias

Nosso pagode é o ano inteiro"

VIVA DIAMANTINA.


Bernardo Magalhães

Fevereiro/2009.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

E por falar em Turismo...



Circula pela internet acusações graves contra a direção e assessores da Secretaria Estadual de Turismo, Setur, infelizmente sem assinatura.
Contudo posso dar meu testemunho.

Participei do último Congresso da ABAV, Associação Brasileira das Agências de Viagem,
no Rio de Janeiro, entre os dias 21 a 23 de outubro de 2008, como representante da Adeltur.

37º congresso, Minas Gerais muito bem representada, com um estande em forma de trem de ferro. O Circuito dos Diamantes, Associação das Cidades Históricas e um grupo de seresta de Diamantina estavam presentes.

A Setur distribuía um CD e também DVD intitulado Brasil/Minas Gerais com patrocínio do Governo de Minas e Embratur através do Ministério do Turismo.

É uma peça promocional para o turismo em Minas Gerais. O vídeo dá uma visão rápida, muito bem feita, sobre Minas Gerais passando por Belo Horizonte, as cidades históricas, as festas populares, etc. Diamantina está lá com uma bela tomada da Vesperata. Mas só. No item circuito das Águas, as termas de Araxá, sem nenhuma menção de Lindóia, Caxambu, Lambari, São Lourenço. No item negócios, de novo, imagens das termas de Araxá...

O que me deixou ainda mais com a pulga atrás da orelha foram as fotos disponíveis para download em alta resolução.

São 76 imagens, de várias regiões de Minas: Ouro Preto e Belo Horizonte as mais privilegiadas com cerca de 10 imagens cada uma, até Felício dos Santos com sua água quente está premiada. Diamantina aparece com apenas duas imagens: o Museu do Diamante com a Igreja de São Francisco ao fundo e o Passadiço da Rua da Glória. E... 6 imagens das Termas de Araxá.

Vale a pena lembrar que a sra. Érika Drummond, Secretária de Estado de Turismo, é interessada diretamente nas Termas de Araxá.

Será que “araxaremos” mera coincidência?

Como diz o Boris Casoy: “Isto é uma vergonha”.

Bernardo Magalhães

Diamantina / Dezembro 2008

Nova Secretária de Cultura e Turismo

Depois de mais de um ano sem atualizar este blog estamos de volta com uma boa notícia: temos uma nova responsável pela Cultura e Turismo em Diamantina.

Marcia Betânia foi escolhida pelo novo prefeito eleito, Padre Gê, após ser indicada por um grupo de artistas, intelectuais e associações de bairros. Quem estiver interessado na proposta ela está disponível em anexo.

Depois de decênios a tradicional política diamantinense está mudando: Padre Gê, filiado ao PMDB, derrotou a velha oligarquia e a população está confiante nas mudanças. Com seu jeito bem mineiro ela vai tocando sem afrontamentos mas firme nas suas propostas de participação popular e de descentralização.

Na Cultura e Turismo Marcia Betânia está primeiro enfrentando o Carnaval, que como um rolo compressor exige toda energia de sua equipe (pequena) para uma intervenção mínima, pois tudo já estava previamente definido.

Uma estrutura viciada, uma máquina burocrática vindo de anos e anos de privatização da cultura, um Turismo feito sem nenhuma planejamento e estratégias, caixas pretas a serem abertas e discutidas com a sociedade.

Discute-se a separação da Cultura e do Turismo, uma decisão a ser tomada com amplo debate entre as partes interessadas: a sociedade, os empresários, as associações e o governo na condução de uma política pública.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Praça Barão de Guaicuí- Capitulo III


Corte do Ipê florido 22/06/07
A Autorização do Codema, datado de 10 de maio de 2007, diz que:
" Os cortes se fazem necessários, pois a referida Praça está sendo reformada e
as árvores em questão não estão devidamente adequadas ao local
e que de acordo com o projeto paisagístico serão plantadas novas árvores
com indicação técnica."
Eu me pergunto:
Qual projeto paisagístico? Por quem?
Por que não foi mostrado tal projeto no dia da apresentaçaão na Camara Municipal?
Olhando a foto acima, será que não dava para adequar tal projeto paisagístico ao Ipê?
Por um metro a mais no canteiro???
Que paisagista é esse que não leva em conta o que já existe?
Me fez lembrar a história de um fotógrafo que na hora do enquadramento da foto
mandou cortar uma árvore!!!
Pobre civilização!!!
Efeito estufa nela!!!
Bernardo Magalhães

Praça Barão de Guaicuí- Capitulo II
















Corte dos Ipês no dia 22/06/07



“Abraço na Praça”

REPÚDIO AO CORTE DOS COQUEIROS E IPÊS
DA PRAÇA BARÃO DE GUAICUÍ
ESCLARECIMENTOS Á POPULAÇÃO

Para uma “Reforma da Praça Barão de Guaicuí”, o corte das árvores, decisão arbitrária, foi tomada
e autorizada pelo CODEMA – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente,
sem nenhuma consulta prévia à população, em flagrante contradição com as
leis do Código Florestal Brasileiro.

Baseado em apenas um Laudo Técnico, (outra opinião poderia ter sido tomada), datado de 06 de junho, o CODEMA autorizou em 10 de maio o corte das árvores. O perito propõe o corte dos Ipês e substituição por outros Ipês (???!!!), alegando que as raízes ficaram expostas por causa das obras. Em nenhum momento levanta-se a possibilidade de uma recuperação destas raízes, de curativos reparadores das cascas machucadas, procedimentos simples e de fácil aplicação.

O responsável pelo corte, o CODEMA, não respeitou o parecer técnico que previa que “uma árvore de ipê encontra-se florida, e de acordo com a lei 4.771/65 que estabelece o Código Florestal Brasileiro, neste período, a árvore fica imune de corte”.
Desrespeitando o parecer, o ipê foi cortado no dia 22 de junho.

Porque não se corta uma árvore em flor? Por sua beleza? Não, porque depois das flores vêm os frutos e as sementes que possibilitam sua multiplicação.

Foi encaminhado um pedido de investigação desse crime ambiental ao
Ministério Público de Minas Gerais que aceitou a denúncia e notificou a
Prefeitura Municipal de Diamantina e o IEF para se pronunciarem.

Um crime ambiental foi praticado
Que se punaM os culpados!

Movimento Pelos Direitos das Árvores

Diamantina, 27 de junho de 2007.

Praça Barão de Guaicuí – Capitulo I


















Diamantina, 07 de junho de 2007

Ao Ministério Público de Minas Gerais

Att/ Dr Ary,


Estou encaminhando ao Ministério Público esta documentação, em anexo, referente ao corte das árvores da Praça Barão de Guaicuí, centro Diamantina.

Infelizmente, por motivos de saúde, tive de me deslocar para Belo Horizonte, neste dia 07/06/07, por isso não pude me apresentar pessoalmente.

Mas vamos aos fatos:

- Dia 06/06/07: logo pela hora do almoço, ao passar pela praça do Mercado, fico abismado em ver que os coqueiros e dois ou tres Ipês já tinham sido cortados.

- Logo me perguntei quem havia autorizado esta ação. Fui informado que havia sido o CODEMA, da Secretaria Municipal de Meio-Ambiente.

-Em seguida liguei para o IEF, COPAM e CODEMA e passei pelo Ministério Público.

-A Secretária do MP me informa que eu precisaria de um BO da Policia Florestal.

-Procuro a Polícia Florestal que estava em treinamento, mas fomos orientados a pedir ao responsável pela obra um documento que autorizava o corte.

-A Total Engenharia nos fornece um documento assinado pela Sra. Debora Ramá Pires, Secretária Municipal de Meio-Ambiente.

-Sempre acompanhado pela PM fomos ao gabinete da Secretária que confirma a autorização.

-Pergunto então em que fatos ela havia se baseado para tomar tal decisão. A resposta foi que havia sido feito um laudo técnico e que eu poderia ter acesso a este documento. E que tudo havia sido aprovado pelo IPHAN, Projeto MONUMENTA e CODEMA. Para ter acesso ao laudo ela precisava de uma solicitação por escrito.

-Decido ir ao IPHAN: o responsável está viajando...

- Vou ao Projeto Monumenta. Ao chegar um dos responsáveis, o Engenheiro Carlos, já sabia dos acontecimentos e me diz que o laudo já estava chegando que eu poderia esperar.

-Quando li o laudo vejo que ele tinha sido feito no próprio dia 06/06/2007, e a autorização de corte das árvores, assinado pelo CODEMA é datado de 10/05/2007. Ou seja o CODEMA assinou um corte sem o laudo.

-O laudo, assinado e datado pelo Dr. Israel Marinho Pereira, da UFVJM, é uma peça que chega às raias do cômico. Cortar Ipês para plantar Magnólias-amarelas!!! Trocar Ipês por Ipês!!!

-Todas as imagens mostradas indicam claramente que todas as árvores poderiam ser recuperadas.

- Os coqueiros, com mais de 80 ,anos, não foram poupados. O Ipê em flor, como assinalei na foto, é poupado por uma lei do Código Florestal Brasileiro, como o Engº Florestal Dr. Israel Marinho Pereira indica em seu laudo... Mas depois que as flores , as sementes caírem, tudo bem, pode cortar.

-Até lições de paissagismo o Dr. Israel aconselha.

-Um laudo somente? Sem direito a contestação?


Finalizando,

Na condição de cidadão diamantinense, residente`a Rua Arraial dos Forros, 365, Tel 3531 7349, venho por meio dessa solicitar ao Ministério Público as providências necessárias à conservação das árvores da Praça Barão de Guaicuí.


Bernardo Magalhães

Anexos:
  1. Laudo técnico para substituição de espécies
  2. Autorização do CODEMA
  3. Solicitação de documento
  4. Recibo dos documentos

sexta-feira, 11 de maio de 2007

E a TV Diamantina?



Toda a cidade se via, se reconhecia: “ Eu te vi ontem na TV.”
As emissões eram ao meio-dia reprisadas às 18:00hs.


Um telejornal até bem feitinho, com entrevistas, reportagens.
A equipe da TV Diamantina, depois abandonados à sua sorte, tendo de brigar na justiça por seus direitos trabalhistas, circulava pelas ruas.
Corriam para sede, ali no casarão da Praça Barão de Guaicuí,
para e edição final. E ao meio-dia interrompiam a Rede Minas e entravam no ar.
Era muito legal.

Conseguiram até alguns anunciantes, tipo apoio cultural, já que neste tipo de emissora é proibida a veiculação de propaganda.

O que será que aconteceu?
Uma TV é poderosa, muda a cabeça das pessoas, ganha eleição...
Dizem que a Fundação que detém a autorização do Ministério das Comunicações, passou de mão em mão, o que é proibido.
Não seria o caso de acionar o Ministério Público para saber o que está acontecendo?
Afinal é uma concessão pública de interesse da comunidade.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

A Dança como introdução social




Alimento da alma, essa que nos alimenta: a arte, a cultura.

Como disse alguém, Nelson Rodrigues(?), “quando falam em cultura eu tiro o cheque.”
Alguns, mesmo sem o cheque, fazem cultura, produzem arte.
É o caso de Robson Dayrell e seu grupo de dança “Primeiros Passos”.

Já teve um grupo de meninas da sociedade.
Já foi solista do Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, já se apresentou em Santiago do Chile e estagiário no Municipal de Stutgart na Alemanha.

Hoje com uma seleção de meninos e meninas da rede pública municipal,
selecionados em teste por suas habilidades, ou capacidade para a dança.
Ele insiste, desde 2004, navegando ao sabor de falta de espaço,
falta de um comprometimento sério da Prefeitura e falta de grana.

No paiol, ele consegue ver o diamante.
São meninos e meninas a quem se apresenta um mundo novo:
o da criação artística, ampliando o conhecimento,
desenvolvendo as relações e a auto-estima.

O trabalho final foi apresentado, dentro do espetáculo “Diamantina Dança Encena”,
junto com o Balé do Conservatório, o Grupo Indaiá, Os Magrinhos e o Hip Hop do Ponto de Cultura com o apoio da Ação Cultural da Fevale de Márcia Betânia.

Com música de Marlos Nobre, figurinos e maquiagem de Jú Cirylo, coreografia de Robson, foi minimalista, concreto. Por isso mesmo um desafio ao grupo, que entendeu a proposta coreográfica, difícil, com poucos movimentos, intimista.

terça-feira, 24 de abril de 2007

A Hora da Estrela













Um dos paineis da mostra “Clarice Lispector - A Hora da Estrela"
no Museu da Língua Portuguesa. São Paulo.


“ Os ovos estalam na frigideira, e mergulhada no sonho preparo o café da manhã. Sem nenhum senso da realidade, grito pelas crianças que brotam de várias camas, arrastam cadeiras e comem, e o trabalho do dia amanhecido começa, gritado e rido e comido, clara e gema, alegria entre brigas, dia que é nosso sal e nós somos o sal do dia, viver é extremamente tolerável, viver ocupa e distrai, viver faz rir.
E me faz sorrir no meu mistério. O meu mistério é que eu sou apenas um meio, e não um fim, tem-me dado a mais maliciosa das liberdades: não sou boba e aproveito.
... Esta é a minha simplicidade.”

“ O Ovo e a galinha” in: Felicidade Clandestina, 1ª edição, 1971. Editora Sabiá.

Aires da Mata Machado Filho
Em louvor de Mestre Aires

O Aires dos ares bons
Aires da mata
da linguagem
e do machado que não mata
mas desbasta e aparelha
a fina palavra
diamantina

palavra certa
que uma enlaçada e outra vai
formando
festa floral
floresta
de bem escrever
‎(ou bem pensar)‎
Aires faiscador
das últimas pedras musicais do Tijuco
Aires dicionário
sem empáfia, sem ares, mineiro
mineiro ladino
que soubeste ver no Tiradentes
o único herói possível
- herói humano -
e na fala do povo
no mistério dos ritos
no arco-íris das serras
captaste o ar, a alma de Minas
ó Aires
da verde mata
do machado de prata portuguesa
legítima
onde se oculta um brilhante
com todos os fogos tranquilos
na sabedoria
mestre Aires, recebe meus saudares.

( Carlos Drummond de Andrade,
publicado no Estado de Minas de 24 de fevereiro de 1989 )

O filólogo, filósofo, professor de Filologia Românica da Universidade Federal e da Universidade Católica de Minas Gerais, historiador, jornalista, presidente, durante muito tempo, da Comissão Mineira do Folclore, foi um pioneiro em muitas frentes. Escreveu, nos anos 30, já que sofria de deficiência visual, uma Educação de Cegos no Brasil.

Em férias, em 1929, o filólogo viajou para São João da Chapada, onde lhe chamaram a atenção "umas cantigas em língua africana ouvidas outrora nos serviços de mineração", conforme descreveu no livro O Negro e o Garimpo em Minas Gerais, obra publicada em 1943 pela editora José Olympio.

Mata Machado sustenta a importância dos vissungos, sua influência nos começos daquele arraial e mais "os vestígios da língua das cantigas na linguagem corrente, na onomástica e na toponímia" - os vestígios de um um dialeto banto num tempo em que se pensava que a língua dos negros trazidos como escravos para o Brasil resumia-se ao nagô.

Das 65 partituras registradas no livro "O Negro e o Garimpo em Minas Gerais", foram selecionadas 14, que distribuídas entre Clementina de Jesus, Doca da Portela e Geraldo Filme, transformaram-se em documentos musicais disputados pelos colecionadores.

Em 1982, a Gravadora Eldorado ousou seu lance mais arriscado, animada pelo sucesso (de crítica) das séries de Marcus Pereira. Editou o disco O Canto dos Escravos, reunindo canções recolhidas e anotadas pelo historiador mineiro Aires da Mata Machado Filho.

Os textos dos Vissungos, extraídos do livro de Aires da Mata Machado Filho, O negro e o garimpo em Minas Gerais (2ª ed., Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1964):


A jangada secando água:
Solo:
Aua cu aua cangirê
Aua cu aua cangira auê
Aua cu aua cangirê, aua
Coro:
Ê aua
Tanto aua para que, aua
Tanto aua pra bebê, aua


Canto da Tarde:

Solo:
Oenda, auê, a a!
Ucumbi oenda, auê, a...
Oenda auê, a a!
Ucumbi oenda, auê, no calunga
Coro 1º:
Ucumbi oenda, ondoró onjó
Ucumbi oenda, ondoró onjó (bis)
Coro 2º:
Iô vou oendá, pu curima auê


Bem que Diamantina poderia ter um espaço em homenagem a
Aires da Mata Machado, além de um nome de escola...
Dá pra pensar, num dá?

Bernardo Magalhães


sexta-feira, 30 de março de 2007

Chichico Alkmim no MASP?









"Freira"
Chichico Alkmim, 19...
Ref: http://br.geocities.com/minasminas2001/


No ano passado fui convidado pela Anna Carboncini,
coordenadora da Coleção Pirelli MASP de Fotografias,
para pesquisar o trabalho realizado pelo
fotógrafo Luciano Carneiro para a revista “O Cruzeiro”.
Ele foi um dos seus principais fotógrafos e documentou os cinco continentes:
da Guerra da Coréia ao primeiro baile de debutantes de Brasília.
O Acervo está no arquivo do jornal “Estado de Minas” em Belo Horizonte.

Agora em 2007, entreguei para a Anna o livro do fotógrafo Chichico Alkmim
que o Bernardo Magalhães me presenteou. Ela gostou muito.
Talvez algumas de suas fotos possam fazer parte da Coleção Pirelli Masp de Fotografias.
É esperar para ver.

Estou trabalhando, nestes dias, na publicação de um livro
sobre o fotógrafo Germano Graeser que trabalhou junto com Mário de Andrade
no IPHAN de SP, documentando os prédios tombados pelo patrimônio.
O livro vai fazer parte das comemorações dos 70 anos do IPHAN.

Juvenal Pereira - fotógrafo
São Paulo

terça-feira, 27 de março de 2007

Fotografia e Diamantina

A Historia da Fotografia no Brasil passa por Diamantina.
















"Rua Direita da Diamantina" Provincia de Minas Gerais, 1868.
Fotografia de Augusto Riedel. Coleção Biblioteca Nacional.

Augusto Riedel em 1868 fotografou a cidade e região quando fazia parte da comitiva do Duque de Saxe, casado com a princesa Leopoldina, filha do Imperador D Pedro II.



















"Árvore (Igreja do Rosário)"
Chichico Alkmim 19...
http://br.geocities.com/minasminas2001/

No início do século XIX, os irmãos Passig vindos de São Paulo e Francisco Manoel da Veiga foram os mestres do Mestre Chichico Alkmim que foi mestre do grande Assis Horta, fotógrafo de SPHAN, nos anos 30/40.



















"Ruínas da cadeia"
Jorge Vasconcelos, 2005

Entre outros fotógrafos atuantes na cidade,
Jorge Vasconcelos desenvolve um trabalho pessoal, delicado, de pesquisa.

Usando uma câmera de plástico com poucos recursos, ele apresentou ano passado,
na Galeria Maria do também fotógrafo
Eustáquio Neves ( pena que o espaço, que ficava na Praça da Carvalhada, não conseguiu fôlego), uma série intitulada: Visão Plástica. Beleza e Descaso.

Além da beleza das imagens ele coloca, bem explicitamente, sua relação de habitante e observador cuidadoso da cidade: são fortes, diria masculinas, essas fotografias.

Amor por Diamantina, cidade que escolheu para morar;
desgosto pelo estado do patrimônio, público ou privado:
beleza e descaso.

Bernardo Magalhães