Na quinta-feira já começam a chegar, o palco está armado.
Com os moradores já em contagem regressiva na sexta-feira começa,: vrum, vrum, baticumcumcum, trataratralalatatá.
Nem todos, vamos dizer a verdade. Vi um infeliz concidadão, com uma caixa de som em cima de seu Uno, aos berros, tocando uma música indecente, nojenta, que garanto não tocaria para sua família em dia de churrasco.
Depois de mais de 800 músicas pelas bandas oficiais, 160 por noite, 80 por banda!, milhares de outras extras pelas caixas de som nos bares, nas barracas, nos automóveis, nas casas: créus, raps, hip-hops, bundinhas, funks, axé, sertanejo...
Depois de milhões de batidas no tamborim, nas caixas e surdos, de sopros nos metais, bilhões de decibéis: marchinhas, sambas-enredo, Xuxa, Chico, Bob Dylan, Marley, Seixas, tudo, tudinho virando Punk-samba na Batcaverna e Bartucada. Faz lembrar Johnny Rotten e os Sex Pistols!!!
Na verdade são dois shows que se repetem todas as noites: se viu uma noite, escutou, já sabe tudo. Nem o Rolling Stones consegue manter com criatividade uma mesma apresentação cinco noites seguidas: só as nossas bandas, graças a Deus!
São profissionais, cumprem uma agenda, um contrato, que imagino para eles mesmos desgastante, apesar do rodízio no palco, insuportável.
Uma geléia geral, um frenesi que alcança níveis alucinantes, uma cacofonia, algaravia indescritíveis: o ritmo é muitas vezes multiplicado, dando impulso final ao álcool, à catarse, ao êxtase que não chega nunca, numa concorrência ao Tecno-Rave da Quitanda.
Músicas que se repetem: nem toda a MPB, nem todo o repertório do mundo são suficientes. Não fiz uma contagem, uma estatística, mas garanto que “I can get no satisfaction” foi tocada pela menos 15 vezes, “Balão mágico”, 18, em ritmo Samba-Punk!
A cidade não suporta, os cidadãos não suportam, a estrutura física não suporta. O lucro suporta!
Quarta-feira, 11 horas da manhã: acabou-se o caos, depois de chegar ao fundo do poço, mas não se vê uma luz. Resta o cheiro azedo.
Fico pensando em João Gilberto e seu silêncio, em Lobo de Mesquita e o órgão da Igreja do Carmo, em Aires da Mata Machado e seus Visungos...
No sábado uma dupla de violeiros cantava no Mercado, finalmente nosso:
"Carnaval são só 4 dias
Nosso pagode é o ano inteiro"
VIVA DIAMANTINA.
Bernardo Magalhães
Fevereiro/2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário