Num estridente ritmo, tecno-funk-samba-trash-bartucada-nada, a cidade ficou entregue à horda invasora. Bárbaros a procura do desbunde alienante. Essa cultura de massa do século XXI, como os seiscentista, do século XVII, a procura dos diamantes: um novo colonialismo, depredador, insano. Ou mesmo dos mil e quinhentos, cortando nossas árvores, derrubando nossa Mata Atlântica.
Ocupam as residências, às dezenas, centenas. Onde mora uma família de 3 ou 5, ficam 20, 30... Chegam mesmo a acampar nas ruas, nos carros, ônibus, invadem os bens públicos, as praças, com suas churrasqueiras, seus colchonetes imundos, quebram as garrafas de vodka, mijam em todas as esquinas. Saem aos berros, alucinados de tanta liberdade, como os portugueses vendo a indiaida nua. Em cada janela, porta, vitrine, uma caixa de som vomitando, ensurdecedoramente. Abusam e não deixam nada.
Sim, restou a depressão da quarta feira: impressionante, de Cinzas. Não era a ressaca, corajosa, era o sentimento de um mal inevitável, como a morte do garoto no Rio de Janeiro. A cidade estava de luto, as pessoas de pêsames por elas mesmas. Diamantina estava morta, de vergonha, de medo.
Uma cidade, (quase disse Arraial do Tejuco), usada e abandonada. Pelas capistranas uma massa informe exala um odor de putrefação que empesta as narinas. E as pessoas começam a lavar as calçadas, as casas, as paredes, como para se livrar da peste. Caminhões tentam lavar as ruas, e o cheiro continua, a chuva não veio... O sentimento de impotência nos oprime, durante e depois da porcalhada. E depois? Não há depois, não se vai nunca questionar nada, a vida continua. Contam-se as migalhas dos reais.
A Raiz ficou à margem. Como na colônia, os blocos passaram ao largo, quase escondidos, pequenos, orgulhosos da tradição, mas cada vez mais excluídos. Resistem à ocupação do neo-colonialismo cultural. O imaginário perdeu-se no trash. A manifestação autentica do povo, nas máscaras, fantasias, alegorias-críticas, brincadeiras irreverentes, engolida pelo lixo.
As poucas verbas, a corte no palco leva tudo, como os diamantes que se foram.
A cidade sensual, do prazer, que encantou os Modernistas é confundida com o nonsense, a procura do prazer rápido, passageiro, e o lucro fácil.
“Os nascidos em Diamantina têm todas as virtudes do mineiro, uma por uma, mas não os defeitos, já que descobriram uma coisa chamada alegria de viver.” “A mais alegre de tuas cidades…, a Diamantina que explica Juscelino, … a alma meio louca e meio menina de Diamantina.", diz Pedro Nava.
Sim, a cidade meio louca, de alegria, de brincadeiras, de porre.
Mas não esquecer, jamais, “ a fina palavra diamantina...” (assim em minúsculo), porque fina é a cidade Diamantina, como bem colocou Drummond em um de seus poemas.
Em 1924, Lucio Costa, aqui, percebeu a “saúde plástica perfeita” em que colonial e moderno se articulam: arquitetura “como o chão que continua”, e com isso deu o salto da modernidade na arquitetura no Brasil. Ele enterrou o neo-colonial na arquitetura.
Queremos agora enterrar esse neo-colonialismo cultural que nos deprime.
Diamantina fevereiro 2007
Robson Dayrell
Bernardo Magalhães
quarta-feira, 7 de março de 2007
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2 comentários:
BOM
Vi Diamantina em várias situaçoes. No carnaval ela é uma prostituta que tudo aceita e dá. Magistrados travestem, o sapo fica seco querendo molhar na perereca. Jovens adultos dão tapas na pantera, garotas lindas procuram gatos e caçam. Cachaças de origem controlada. Alí, no carnaval, tudo é permitido porque traz muito dinheiro.Mas como em toda transa depois do gozo vem o cheiro de sêmem ou a urina nas capistranas.
Xica da silva pirou o contratador
Viva todos os vícios e virtudes.
Viva eu e viva tu, viva o rabo do tatu.
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