quinta-feira, 15 de março de 2007

Lucio Costa e Diamantina

Interior da Igreja do Carmo, aquarela, 1924


Passo a palavra ao próprio Lucio, descrevendo esse encontro com Diamantina:

"Lá chegando, cai em cheio no passado, no seu sentido mais despojado, mais puro; um passado que era novo em folha para mim. Foi uma revelação: casas, igrejas, pousada dos tropeiros (...)
A janela do meu quarto, no Hotel Roberto, dava para a rua (...).
Um piano distante tocava quando desci e me pus a caminhar pelas capistranas, trilha de lajes maiores no meio das ruas empedradas: no alto de uma ladeira os dois sobrados do colégio de freiras ligados por um elegante passadiço; num largo fronteiro a uma igreja o típico cruzeiro de madeira guarnecido dos símbolos do martírio, com uma figueira enroscada, nascida do seu pé. Depois a fachada da casa de Chica da Silva, a famosa amante do contratador, resguardada por extenso muxarabi, e, defronte, a capela do Carmo, construída para ela, cuja chave o sacristão Zacarias - com sua bonita mulher de pés no chão - me confiara para que ficasse à vontade, na solidão da igreja fechada, pintando uma aquarela do seu lindissimo interior.

No último dia, já tarde, subi ao campanário para me despedir da cidade e lá fiquei, olhando os telhados, até escurecer".

Lucio Costa
Diamantina 1924

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